O palco da conferência global da Nvidia (GTC2024) foi o cenário ideal para uma discussão profunda e inspiradora sobre os desafios e estratégias para promover a inovação nas organizações. Um dos painéis reuniu especialistas renomados, que compartilharam suas visões sobre como lidar com sistemas legados, resistência interna e débitos técnicos, elementos frequentemente presentes no caminho da inovação.
Rohit Chauan, VP da Mastercard, enxerga que estamos diante de uma transformação tão grande quanto a própria internet e que todos os líderes devem enquadrar seus projetos pensando em aproveitar as principais capacidades das novas tecnologias.
No caso da Internet, o custo da comunicação e conexão, por exemplo, tende a zero. Naquele momento, todas as empresas que conseguiram olhar para seus desafios e projetos com as lentes da comunicação de custo nulo saíram na frente. E isso criou uma série de oportunidades em todos os aspectos do negócio, tais como lojas online, aplicativos de serviços, etc.
Hoje, o custo de se criar previsões e cenários hipotéticos está tendendo a zero. Então, todo líder deveria olhar para seus desafios com as lentes da simulação e da previsão.
“O que podemos fazer de forma diferente, agora que temos essa incrível máquina de simulações na nossa mão?”, essa deveria ser a pergunta que todo líder deveria se fazer.
Cynthia Stoddard, da Adobe, acrescenta que grande parte do papel do líder nesse contexto é apontar problemas ou oportunidades. Fazer as perguntas certas, estimular debates e, além disso, fomentar um ambiente seguro para inovação. É preciso também criar uma cultura onde certo nível de fracasso ou tentativa e erro é aceitável e preparar as estruturas corporativas para aproveitar a IA.
Cynthia conta que a Adobe criou uma fonte unificada de dados para poder disponibilizar essas informações para todos os times e conseguiram que todos eles compartilhassem suas bases. Mas que isso tudo só é possível com uma Gestão de Mudanças eficiente para as pessoas entenderem o que ganhariam com isso.
Clara Shi, CEO da Salesforce AI, conta que a natureza da inovação está mudando e que no futuro talvez você não precise realmente reescrever softwares para inovação, mas isso só acontecerá se os dados estiverem acessíveis e a colaboração for estimulada.
Segundo ela, as empresas sempre viveram no mundo de dados estruturados e hoje temos possibilidade de usar dados desestruturados. Isso significa que, se superarmos os desafios de integração, podemos colocar cerca de 80% de dados a mais na mão das pessoas.
Alex Balazs, VP da Intuit, entende que o maior desafio numa organização tradicional é criar a confiança e a estrutura corporativa necessárias para inovar. Afinal, grandes organizações não tendem a ver erros com bons olhos e, normalmente, não têm incentivos adequados para estimular a inovação. Por isso, sente que mais do que olhar para fora é preciso olhar para dentro e organizar um sistema de métricas de sucesso, incentivo e liderança que estimulem a inovação.
Susanna Holt, VP da Autodesk, enxerga que o processo exige um equilíbrio delicado, onde se exercita o valor e a empatia pelas soluções atuais, mas, ao mesmo tempo, busca-se que as pessoas se engajem em construir algo novo. Por isso, sempre que possível, tenta estimular projetos entre times novos e antigos, a fim de que todos estejam conectados com a mesma missão.
Cynthia acrescenta que outro ponto importante é educar os times, tanto formal (com cursos e objetivos) quanto informal, simplesmente abrindo espaço para as pessoas interagirem com essas ferramentas e experimentarem livremente.
Rohit aponta que um grande problema é que boa parte da receita das empresas Enterprise vem de tecnologias legadas, que ainda funcionam bem e são robustas demais para serem refeitas com novas abordagens. Então, muito do esforço vem como integrar stacks legados com novas tecnologias para gerar valor.
Susanna acrescenta que outro desafio é humano, já que as pessoas que trabalham nos sistemas legados podem sentir-se desmotivadas e quererem abandonar sistemas centrais e essenciais para as empresas. É essencial criar um senso de evolução positiva e não algo que descarte ou simplesmente substitua o bom trabalho que está sendo feito. Nesse sentido, é essencial ter uma boa comunicação, onde fique claro o propósito da mudança, o caminho, as vantagens e a importância deste time no contexto.
Alex complementa sobre o aspecto humano no sentido de aproveitar os talentos que trabalham nos sistemas legados, treinando-os e motivando-os para que eles — que os conhecem como ninguém–possam se capacitar para evoluir ou revolucionar esses sistemas.
Esse cenário exige uma liderança ambidestra. É preciso valorizar os sistemas que funcionam, entender o que precisa ser ajustado e o que será disrompido e trabalhar como um só time, com missões e objetivos diferentes para cada parte do stack tecnológico.
Todos os líderes reforçaram desafios que são bastante familiares de muitas grandes organizações: estrutura de incentivos, cultura de inovação, líderes preparados e acesso seguro aos dados e tecnologias necessárias para inovar.
No fim deste painel, bem como praticamente todas os demais do evento, ficamos com a clara sensação que vivemos tempos muito estimulantes e desafiadores, e de que as empresas tradicionais ou inovadoras, grandes ou pequenas, não podem perder a oportunidade de repensar agora seus negócios diante dessas novas possibilidades.